– desde a filha do presidente, passando pelo vice-presidente e incluindo o chefe da Casa Militar – incomodaram Luanda, que decidiu suspender a “parceria estratégica” com Portugal e gerou uma crise diplomática entre os dois países.
Mais do que o mal-estar político, é o impacto econômico da medida que preocupa os portugueses, especialmente os que trabalham ou tem negócios na antiga colônia africana. Angola tem sido uma tábua de salvação para Portugal, ainda mais nos últimos anos de crise econômica. A recente desavença disparou uma força-tarefa entre governo e empresários para recuperar as relações com Luanda – e as vantagens comerciais, que neste momento tem como prioridade o Brasil e a China.
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Em jogo está uma parceria que rendeu a Portugal 3 bilhões de euros em exportações no ano passado – quase a meta que o Executivo planeja economizar com o polêmico orçamento de 2014 –, gordas remessas de emigrantes residentes em Angola que somaram 270 milhões de euros em 2012, além do investimento massivo em solo angolano de empresas portuguesas no setor bancário, de construção, hoteleiro e outros. Mas não é só isso. O capital angolano tem participações robustas em empresas de Portugal, sobretudo no setor de telecomunicações, clubes de futebol, entidades financeiras e na petrolífera Galp.
[Pessoas próximas ao presidente de Angola são acusadas de corrupção]
Corrupção
Em comum entre os investigados há a relação próxima com o presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, no poder desde 1979. A começar por sua filha, Isabel dos Santos, considerada pela revista Forbes a mulher mais rica do continente africano. A empresária é a maior acionista da nova operadora portuguesa de telecomunicações Zon Optimus e detém 19,5% do Banco Português de Investimento, entre outros negócios.
Também proveniente do círculo familiar do presidente, outro nome alcançou as instâncias judiciais, desta vez por meio do Ministério Público do Brasil. O general Bento dos Santos Kangamba, casado com a sobrinha do presidente, é acusado de participação em quadrilha que traficava mulheres de São Paulo para fins de prostituição em Angola, Portugal e África do Sul. Seu nome já está na lista de procurados da Interpol.
No que toca à relação luso-angolana, os interesses econômicos envolvidos são tantos que poucos arriscam a falar sobre o governo da ex-colônia e as críticas à suposta ingerência política na Justiça portuguesa arrefeceram – esta última veio à tona quando o ministro português de Negócios Estrangeiros, Rui Machete, em entrevista à Rádio Nacional de Angola, pediu “desculpas diplomáticas” pela investigação de altas figuras angolanas.
Eldorado nem tão dourado
Após os 14 anos de guerra anticolonial (até 1975), aos quais se seguiram outros 27 anos de guerra civil (até 2002), hoje Angola figura como um “Eldorado” para os portugueses: alto PIB e muita infraestrutura para ser construída – o que torna imprescindível a chegada de profissionais de vários ramos. O fim do conflito militar marcou o início da idade de ouro da economia, financiada pelas exportações de petróleo, gás e diamantes. Para Manuel Rocha, docente na Universidade Católica de Angola, contudo, a dependência desses recursos é “nociva e com baixo potencial de gerar empregos”.
Angola tornou-se um dos destinos preferidos de portugueses emigrantes, que ali encontram boas oportunidades de trabalho. Mas nem tudo é perfeito. A engenheira civil portuguesa Ana Cabido trabalhou na ex-colônia entre 2006 e 2013. Durante esse período, ela testemunhou o abismo social do país, especialmente na capital: “Ao lado das pessoas que vivem em barracas de zinco, há arranha-céus de 30 andares”, conta.
O acelerado crescimento do PIB – que chegou a 23% em 2008 – pouco se reflete na distribuição de renda: 60% da população vive com menos de 2 dólares por dia. Em Luanda, a cidade mais cara do mundo, conforme a consultoria Mercer, a vida dos ricos de helicópteros passa ao lado da maioria da população, que ainda sofre com carência de água, luz e rede de esgoto. Estimativas fornecidas por Manuel Rocha a Opera Mundi mostram uma queda acentuada do PIB até 2017. Ele alerta: “Já não se trata mais de apostar no crescimento, mas em como melhorar a condição de vida da população”.
Do Opera Mundi
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