sexta-feira, 25 de abril de 2014

Torturador na ditadura, coronel Paulo Magalhães é encontrado morto no RJ

Um mês após revelar ao país que matou, torturou e ocultou cadáveres de presos políticos durante a ditadura, o coronel reformado do Exército Paulo Malhães, 76 anos, foi encontrado morto na manhã desta sexta-feira, no sítio em que morava, emNova Iguaçu, no Rio de Janeiro.


Os homens levaram celulares, dois computadores, impressoras, jóias e pelo menos quatro armas da coleção do coronel, além de R$ 700. Fábio Salvadoretti suspeita que Malhães tenha sido assassinado por asfixia cerca de três horas depois da chegada dos bandidos ao sítio. Segundo ele, não há indícios de que o coronel tenha sido torturado.


Cristina Batista Malhães, viúva do coronel, contou que apenas um dos três homens estava encapuzado. Antes de irem embora, eles soltaram a mulher do coronel e o caseiro, que tinham sido amarrados e colocados cada um em um cômodo da casa.

O delegado Salvadoretti disse que estuda três linhas de investigação para o crime

– A esposa ouviu os bandidos fazendo ameaças, tipo "onde estão as armas e as jóias". A investigação está muito preliminar ainda. Nada está sendo descartado. Pode ter sido um latrocínio, uma vingança ou um crime relacionado com o depoimento prestado por ele à Comissão Nacional da Verdade – explicou o delegado.


No mês passado, Malhães admitiu torturar e matar durante a ditadura

— Quantas pessoas o senhor matou?

— Tantas quantas foram necessárias?

O diálogo travado entre o ex-ministro José Carlos Dias e o coronel reformado Paulo Malhães ocorreu no dia 25 de março, durante o depoimento do militar à Comissão Nacional da Verdade (CNV).

Malhães estarreceu o país com suas revelações. Em pouco mais de duas horas de depoimento, o coronel respondeu às perguntas com frieza e sem demonstrar arrependimento. 

No dia 21 de março, quatro dias antes de falar à CNV, o militar também havia declarado à Comissão da Verdade do Rio de Janeiro que jogara os restos mortais do ex-deputado Rubens Paiva no mar fluminense, depois de os desenterrar de uma praia, onde fora sepultado clandestinamente em 1971.

Mas Malhães voltou atrás no depoimento à CNV. Negou que tivesse escondido o corpo de Rubens Paiva e disse que sustentou a versão apenas para conformar a família do parlamentar.

Logo após a notícia da morte do militar, suspeitas de queima de arquivo começaram vir à tona. Pelo Twitter, a ex-ministra dos Direitos Humanos, a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), disse que "soa estranho que após essas revelações o militar tenha sido assassinado". O presidente da Comissão Estadual da Verdade (CEV) do Rio de Janeiro, Wadih Damous, também disse acreditar na hipótese de queima de arquivo e defendeu "rigor nas investigações".

— Ele foi um agente importante da repressão política na época da ditadura e era detentor de muitas informações sobre fatos que ocorreram nos bastidores naquela época.

Malhães foi agente do Centro de Informações do Exército (CIE) e chegou a ensinar técnicas de tortura a repressores gaúchos. Ele também foi um dos agentes mais ativos da chamada Casa da Morte de Petrópolis, um centro clandestino mantido pelo regime militar no início da década de 1970.

O depoimento de Malhães à CNV:

  

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