Não é porque certas mudanças necessárias ainda não aconteceram, que devem ser feitas por vias transversas, sem a devida reflexão e ampla discussão. O que ele quis dizer com isso? que se Marina eleita não tiver base de apoio suficiente para votar e aprovar as reformas necessárias ao país, a população deve invadir o Congresso e exigir as mudanças na marra? Não? Pois pareceu.
Este não é um bom conselho a ser seguido. Melhor seria educar a população e a juventude em especial sobre o papel da participação via conselhos populares, via partidos políticos, via orçamento participativo, via TVs e rádios comunitários, via debates e audiências públicas onde todos podem ouvir e dizer o que pensam e cobrar depois se suas propostas para o país foram implementadas.
Propagandear estas possibilidades é sabedoria e não incentivar a pressão pela força contra o Poder Legislativo, previsto pela Constituição e cujos representantes são eleitos democraticamente pelo voto de todos os brasileiros.
O Congresso Nacional já foi fechado mais de uma vez no Brasil e o que resultou disso qualquer um de nós aprendeu nas aulas de história: prisões, cassações de direitos políticos, mortes, obscurantismo.
Nos dias de hoje, de pregação indiscriminada contra os políticos, a importância da participação via partidos políticos deve ser estudada. Os partidos políticos possuem importante disciplinamento na Constituição Federal, integrando o Título dos Direitos Fundamentais.
Na atual ordem constitucional, possuem, por exemplo, legitimidade ativa para impetrar mandado de segurança coletivo (art. 5º, LXX – CF) e propor ação direta de inconstitucionalidade (art. 103, VIII – CF). O único requisito imposto pela Lei Mãe é que tenham representação no Congresso Nacional.
Outro importante canal de participação popular foi incentivado pelo decreto 8243/2014, assinado em maio deste ano pela presidente Dilma, criando a Política Nacional de Participação Social, e estimulando a participação dos conselhos, dos movimentos sociais e da população nas medidas do governo.
O objetivo da lei é claro: promover a participação social na formulação, acompanhamento, monitoramento e avaliação das políticas públicas, além de prever canais de articulação da sociedade com as três instâncias de governo: federal, estadual e municipal.
O que pensam o senhor Beto Albuquerque e a senhora Marina Silva sobre isso, além de querer governar com a força das ruas e as alianças as mais amplas possíveis?
Todos sabemos que as manifestações de junho de 2013, embora legítimas, não demonstraram apenas que os brasileiros tem consciência de que devem participar dos destinos do país.
Em várias cidades do país, deixaram um rastro de ódio e destruição desenfreada, saldo de todo movimento sem direção definida: prejuízos incalculáveis ao patrimônio privado e público- como nos prédios do Congresso Nacional, do Itamaraty e da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, para citar apenas alguns - além de estilhaços à lisura de organizações políticas atuando em consonância com princípios anarquistas e o movimento Black Bloc e suas técnicas fundamentalistas.
Os brasileiros ainda trazem viva na memória as cenas da explosão do rojão que atingiu a cabeça e causou a morte do cinegrafista da "TV Bandeirantes", Santiago Ilídio Andrade, 49, durante uma manifestação contra o aumento das passagens de ônibus no Rio de Janeiro, em fevereiro deste ano.
Era um pai de família, num dia normal de trabalho na imprensa, registrando o confronto entre manifestantes e policiais, que por ações de irresponsáveis, nunca mais voltará para casa.
Ele não foi escolhido para morrer, mas não se pode afirmar que foi um acaso. Quando se soltam explosivos no meio da multidão são grandes as probabilidades de que alguém se machuque feio e até morra. E com a morte não se brinca. Aqui não existem inocentes só porque são jovens.
Segundo matéria da Agência Brasil, de julho ultimo, o texto da denúncia encaminhada pelo promotor da 26ª Promotoria de Investigação Penal do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), Luís Otávio Figueira Lopes, ao juiz da 27ª Vara Criminal , Flávio Itabaiana de Oliveira Nicolau, afirma que os ativistas decidiam em reuniões fechadas as ações violentas em manifestações nas ruas do Rio de Janeiro.
De acordo com o promotor, citado pela Agência Brasil, esses ativistas foram responsáveis entre outras coisas, pela decisão de incitar os ocupantes do movimento Ocupa Câmara - na Câmara Municipal do Rio em agosto 2013 - a promoverem a queima de um ônibus, e carregar galões de gasolina e incitar os demais manifestantes a incendiar o prédio. O objetivo, felizmente, não foi alcançado em razão da intervenção de outros participantes dos atos.
Não creio em coincidências. Por que será que em junho de 2013, quando manifestantes ocuparam as rampas e o teto do Congresso Nacional, houve depredação e um princípio de incêndio no Itamaraty, em Brasília, foram identificados integrantes da Rede, entre as lideranças das manifestações ?
Mistura explosiva a que se anuncia na era Marina Silva/Beto Albuquerque, ele um defensor do agronegócio, ela do meio ambiente, até que se prove o contrário. Como definirão de que lado devem ser soltos os rojões quando voltarem a se repetir na Esplanada dos Ministérios as manifestações ocorridas à época da aprovação do Código Florestal?
À época, lançando mão de práticas de mobilização social apoiadas por polpudos recursos, mais de 20 mil pessoas participaram de manifestações lideradas pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso.
Os manifestantes estavam unidos por uma só causa: pressionar o Congresso pela mudança no Código Florestal, derrubando as restrições ao desmatamento, pouco importando o que significa para a ecologia e para a sociedade brasileira transformar tudo em pasto ou em campos de monocultura extensiva.
Do outro lado, e apenas uma semana depois, cerca de 3 mil pequenos produtores rurais, principalmente agricultores familiares, estiveram também em Brasília, pressionando o Congresso ao contrário, ou seja, pela manutenção das restrições ao desmatamento.
Se a idéia de governar com a força das ruas pegar, dias virão em que estarão aqui todos juntos e a pergunta que não quer se calar é: quem sairá favorecido no corpo a corpo, os pequenos agricultores familiares, responsáveis por 60% dos alimentos que chegam à mesa do brasileiro, ou os convocados pela bancada ruralista e o agronegócio, que pensam na exportação de grãos e de carne ? e se a eles se juntarem os participantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, organizados desde 1984 em 24 estados brasileiros?
Pregar governar com a força das ruas, havendo possibilidade de estar nas ruas segmentos os mais variados da ainda desigual sociedade brasileira é um risco e uma irresponsabilidade muito grande do que daí pode advir.
Marina Silva, ex seringueira, eleita duas vezes senadora pelo PT, ex-ministra de Lula, não reconhecer as ações dos governos petistas para diminuir essa desigualdade e tirar da miséria 40 milhões de brasileiros, muitos deles analfabetos, como ela foi até os 16 anos de idade, é iniciar um projeto egoísta, abandonando os reais ideais coletivos.
Marina e Beto fazem parte daqueles que preferem apoiar o regime da hipocrisia em anos eleitorais, sem levar em conta os prejuízos causados à população.
O posicionamento político contraditório e titubeante de Marina e Beto em questões importantes como a exploração do pré sal, a independência do Banco Central, o peso de Malafaia no programa do partido, além da explosiva crença de que é possível governar sem maioria no Congresso mas sim com a forças das ruas são fatos que devem levar o eleitor a refletir profundamente sobre como seu voto influenciará definitivamente nos destinos do Brasil.
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