quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Quem tem medo do rolezinho?

Reuniões pacíficas têm reivindicação difusa de acesso ao mercado de consumo, ao direito de ir e vir e ao uso de equipamentos da cidade, mas criminalização está em curso; quem tem medo dos rolezinhos pacíficos, afinal?
; repressão pesada em São Paulo despertou convocação no Rio de Janeiro, para o elegante shopping Leblon; governador Geraldo Alckmin promete apurar violência praticada pela PM no Shopping Itaquera; prefeito Fernando Haddad acredita que movimento discute falta de lazer público; fenômeno organizado na internet ganha nova dimensão

Rio 247 – Um grupo que se autointitula como "Porque Eu Quis", no Facebook, está promovendo uma manifestação marcada para o próximo domingo (19) no Shopping Leblon, Zona Sul do Rio, contra a discriminação de negros e pobres, que, de acordo com o grupo, estaria ocorrendo nos shopping de São Paulo. Mais de 2,7 mil pessoas confirmaram presença.

"Em apoio à galera de São Paulo, contra toda forma de opressão e discriminação aos pobres e negros, em especial contra a brutal e covarde ação diária da polícia militar no Brasil, seja nos shoppings, nas praias ou nas periferias", diz o texto na página do Facebook. Na Delegacia de Repressão a Crimes de Internet, a Polícia Civil do Rio mantém um núcleo para monitorar ações suspeitas em mídias sociais.

De acordo com os organizadores, a página foi criada (no dia 7 de setembro) como uma forma de repudiar a declaração de um policial militar durante a avalanche de protestos em junho. Ao ser questionado por que agiu com truculência, o PM responde: "porque eu quis".

O texto diz, ainda, que a "página não tolerará de forma alguma comentários que reifiquem as violações de direitos humanos, sociais e políticos". "Quaisquer postagens facistóides, misóginas, homofóbicas, racistas e que incitem o preconceito de classe ou a violência serão devida e celeremente EXCLUÍDAS e o cidadão que divulgou o conteúdo em questão será BANIDO da página".

O governador Geraldo Alckmin afirmou que vai exigir apuração rigorosa sobre a ação da Polícia Militar no shopping Itaquera, durante dispersão de encontro de cerca de mil jovens para o 'rolezinho'. O prefeito Fernando Haddad reconheceu que o movimento aborda o problema da falta de espaços públicos de lazer para a sociedade.

PERGUNTAS SOBRE O MOVIMENTO - Uma pergunta que leva a outra está no ar: quem tem medo dos rolezinhos? Seria melhor ter bondes da bandidagem?

Nas redes sociais, ao lado de posições prós e contras está em debate neste momento o potencial de violência que os encontros de jovens marcados pela internet encerram.

No final de semana, a Polícia Militar foi dura com a concentração de cerca de mil adolescentes no Shopping Metrô Itaquera. Cassetadas e bombas de gás foram usadas para dispersar a manifestação, até ali pacífica e legal. O Shopping JK já conseguiu proteção judicial, sob a alegação de que é um espaço privado com acesso ao público. Pode, portanto, ser restritivo.

Descer os bastões e ter garantia da lei, no entanto, abole a questão social que existe em torno dos rolezinhos?

Dá mesmo para crer que esse fenômeno social não tem fundo de questionamento de classe, de abertura de discussão sobre direitos de reunião e de ir e vir, além de acesso ao consumo e aos equipamentos público e, digamos, semi-públicos das grandes cidades?

Se fosse para colocar os rolezinhos apenas na conta da proposta de arruaça – proposta, porque nenhum gesto de violência partiu de qualquer um dos integrantes dos rolezinhos no final de semana paulistano --, por que os jovens estavam todos à paisana, com seus bonés, bermudas e camisetas à moda disseminada por jogadores de futebol?

Onde estavam os black blocks para iniciar o quebra-quebra? Por que já não se viu nos primeiros rolezinhos uma onda de assaltos como se dá nas praias do Rio de Janeiro em forma de arrastão? Nada disso aconteceu. Os encontros foram pacíficos, feitos nitidamente por jovens que, a seu modo, estão pedindo passagem ao mundo da inclusão.

O rolezinho, que já sofre campanha de criminalização, na verdade é uma manifestação civil tão legítima quanto as marchas populares de junho – e, mesmo sem que seus integrantes carreguem cartazes, tem o mesmo tipo de reivindicação difusa. Hoje, o rolezinho não se equipara em número e expressão aos grandes protestos, é claro, mas a pura e simples repressão sobre ele podem provocar um efeito contrário, de despertar forças que a maioria dos analistas consideravam vivas.

Para aproveitar esse fenômeno espontâneo e pontual, o melhor a fazer seria entendê-lo antes de promover a repressão pura e simples. Até porque o movimento é pacífico. Em resposta à violência policial manifestada em Itaquera, o risco é que mude de sinal.
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